domingo, 15 de março de 2015

A HISTORIA DO SEU BAIRRO _ Os vários donos da Fazenda Coqueiros em Santíssimo

foto: Imprensa Popular

Para ninguém dizer que eu só falo de Campo Grande para cima, como uma leitora já reclamou, hoje falaremos de Santíssimo .

Os vários donos da Fazenda Coqueiros em Santíssimo

“Existe ali muita terra devoluta, e já houve muita encrenca e muita morte, também.”, ponderava Aguir Tavares, em 1946, sobre um conflito na Fazenda Coqueiros, em Santíssimo, “entre uma Cia. Portuguesa e sitiantes que lá vivem há 12 anos.” No ano seguinte, o vereador petebista João Luiz de Carvalho dizia estar em curso na referida fazenda uma “grande ofensiva” de “grileiros” e “latifundiários” através da Cia Rural e Urbana para o despejo de 200 lavradores, “num total de 12 mil patrícios”.


Foto:Imprensa Popular, 22 de setembro de 1957

Anos depois, o representante trabalhista apresentava “um histórico” da Coqueiros: teria se originado de uma “sesmaria” doada pelo governo aos pretos forros. Na visão de Carvalho, ela seria uma herança jacente, pois não viviam mais descendentes dos pretos forros ali. Posteriormente, a propriedade foi “empolgada por um dos mais vorazes e desumanos grileiros que proliferam nesta terra, Hermano Barcelos”, dono da Cia. Rural e Urbana. A União teria conseguido reincorpora-la em 1942, mas três anos depois, ela voltou às mãos de Barcelos, “que por influências políticas e de amizade, conseguiu anular o ato do governo”. Finalmente, parte dela fora vendida ao IAPI (Instituto de Aposentadoria e Penção dos Industriários). Em setembro de 1952, o número de lavradores ameaçados pelo IAPI tinha dobrado para 400, segundo cálculo do Imprensa Popular, apesar da sempre crescente ameaça de despejo. A luta desses lavradores – que se autointitulavam “posseiros” que lá trabalhavam “há dezenas de anos” - seria muito antiga, confirmando a versão de Aguir Tavares: em 1927, por exemplo, eles teriam obtido “uma manutenção de posse e direito de retenção contra a Cia. Rural e Urbana do Distrito Federal”. Mas diferentemente desses anos, em que a luta parecia respeitar os limites impostos pela lei, o pretenso proprietário (IAPI) se utilizava de métodos pouco amistosos. Os lavradores denunciavam que ele queria que eles assinassem um contrato de locação; diante da resistência dos “posseiros”, o instituto teria recorrido à polícia e a um oficial de justiça, “que intimidaram os trabalhadores”. Ao que parece, a situação permaneceu tensa durante toda a década de 50, com várias idas dos lavradores de Coqueiros ao centro da cidade. Numa delas, já em 1957, eles protestavam contra a violência praticada pela polícia numa medição feita pelo IAPI. Em fins de 1963, o referido órgão ainda era objeto de denúncias; numa concentração de lavradores na Assembléia Legislativa, o presidente da Associação Rural de Santíssimo José Ribeiro, alegava que o instituto, “por incrível que pareça”, tentava “despejar os verdadeiros donos” daquelas terras.

Imprensa Popular, 2 de agosto de 1952

Historia: Leonardo Soares dos Santos

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